O tema sexualidade ainda é pouco discutido e por isso ainda prevalecem articulações conceituais do senso comum, que causam muitas confusões. O pior é que essas articulações se naturalizam, de tal modo, que se tornam quase imperceptíveis, e produzem consequências demasiadamente importantes para serem ignoradas.
Será que sexualidade infantil é aquela sobre a qual não se pode falar e por isso deve ser ignorada ou “mal falada”?
Não se pode ignorar que o corpo da criança é a matriz da sua sexualidade. É por meio dele que ela sente e percebe o mundo desde que nasce. É também pela proximidade física dos pais que desde bebê ela percebe amor e a sensação de segurança.
Matriz sexual por que também o corpo do bebê possui muitos pontos anatômicos que geram e produzem sensações incluindo excitação sexual. Por isso sente prazer e desprazer corporais provenientes dos afetos e das carícias provocadas pelos outros, evidenciando uma sexualidade infantil sentida, vivida e simbolizada de maneira singular.
Portanto, a sexualidade é uma dimensão humana que acompanha as pessoas ao longo de toda a vida, num conjunto de tudo que ouvimos, vemos, sentimos e recebemos da família, escola, comunidade e cultura onde estamos inseridos.
Desta forma é muito útil o questionamento de como a família de forma geral tem contribuído ou não para o desenvolvimento de uma sexualidade saudável de seus filhos, com seus discursos adoecidos.
A criança ao receber por exemplo a informação de que seu corpo se trata de algo vergonhoso, apelidado de forma nojenta e pecaminosa por exemplo, passa a ser não apenas portadora, mas também propagadora de um conjunto de princípios e opiniões alicerçadas num pudor excessivo e inibidor de qualquer forma de expressão de sexualidade.
Para começar vale a pena investigar sobre os apelidos que emitem para as genitálias tanto femininas quanto masculinas.
Para as femininas, é comum escutar apelidos como, barata, aranha, perereca e vassoura são nomes que sugerem nojo, medo e que assustam. Já para a masculina, nomes como pistola, passarinho, documentos, etc. Estas noções passadas são fixadas na mente infantil, e levam, mais tarde, a uma imagem distorcida do funcionamento da genitália. Sensações que o corpo tem partes que “não se pode chegar perto”, que são “nojentas” e que não se sabe como podem ser utilizadas.
Aos 2 anos de idade a criança possui apenas o raciocínio concreto. É a fase em que o conhecimento das palavras aumenta, e o aprendizado dos nomes do corpo também. A criança já aprende nomes como joelho, pescoço, orelha que são verbalizados normalmente. Entretanto, essa mesma atitude não ocorre com os nomes da genitália masculina (pênis) e feminina (vagina), devido ao próprio constrangimento.
Como nessa fase o abstrato ainda não está formado os pais devem cuidar da linguagem que usam. Se eles brincam dizendo: você parece uma bola gordinha, a criança começa a se imaginar uma bola. Imagine se o pai fica preocupado com os documentos que sumiram se teve sua genitália apelidada por “documento”.
Sem pensamento lógico natural dessa fase, e com a capacidade de iniciar a percepção do outro, não de deve permitir que a criança permaneça no quarto dos pais e presencie uma relação sexual. Além de não conseguir abstrair sobre o que está acontecendo, a criança pode perceber a atitude do pai como agressividade do pai, em relação, à mãe.
Como exemplo pode começar a inventar nomes para o que presenciou e ampliar seu repertório adoecido frente à sexualidade.