Gerações recentes de crianças estão crescendo com pouco ou nenhum contato direto com sua herança natural. Os americanos – sempre um passo à frente em tais coisas – chegaram a cunhar uma frase para descrever o fenômeno: diz-se que nossos filhos estão sofrendo de “transtorno de déficit de natureza”, embora ainda não reconhecido em nenhum dos manuais médicos para transtornos mentais.
Esse termo foi cunhado pelo escritor Richard Louv em um livro de 2005, “Last Child in the Woods”, no qual, afirma que a criança na natureza é uma espécie ameaçada, e a saúde das crianças e a saúde da Terra são inseparáveis. É um termo que evidencia as consequências desse divórcio entre humanos e habitat, pois afinal, crianças, estão gastando menos tempo ao ar livre resultando em uma ampla gama de problemas comportamentais.
Sem dúvida como seres biológicos, somos fisiologicamente adaptados para estar em certos ambientes – correr, brincar, caçar, ser basicamente ativos.
O autor e cientista vencedor do prêmio Pulitzer, Edward O Wilson, argumenta que os seres humanos têm uma afinidade inata, baseada na biologia, com o mundo natural. Ele chama isso de “biofilia” – definida como “o desejo de se afiliar a outras formas de vida”.
Alguns cientistas dos EUA acreditam agora que, assim como as crianças precisam de boa nutrição e sono adequado, elas também precisam de contato regular com a natureza.
Oferecer, entretanto, à criança a possibilidade de conhecer o mundo como ele é uma tarefa árdua pois ele abrange, lugares de pedras, árvores, insetos, sol, lua, vento, nuvens, chuva, neve e milhões de coisas; um mundo guiado por princípios, onde há um equilíbrio de causa e efeito, onde “caiu, fez bum” quer dizer joelhos esfolados, onde o fogo queima e quente significa não toque.
Entretanto, a natureza dota a criança de uma capacidade de interação incrível através de seus movimentos corporais. E nada mais é preciso para que a criança interaja com o mundo. Através desta interação prática com este mundo também muito prático, são formados novos padrões de organização sensorial e ações corporais.
Para que a criança experimente o mundo como ele é, o adulto tem uma tarefa importante: apresentar o mundo como ele é, sem acrescentar seus valores.
A criança pequena está descobrindo um novo mundo, com a ajuda de todos seus sentidos em plena atividade e preparada para realizar muitas interações com o meio. O mais maravilhoso de todas estas interações é que a criança não é dotada de valores, significados, preconceitos, finalidades ou utilidades, o que permite que ela entre na experiência completamente. Os adultos por outro lado, tendem a valorizar toda experiência e conhecimento de acordo com ideias culturais sobre utilidade ou valor. Este olhar encobre possibilidades e busca apenas aquilo que pode ser utilizado.
É fácil culpar essa desconexão com a dieta diária dos jovens de TV, jogos de computador e outros aparelhos eletrônicos – bodes expiatórios convenientes para a culpa dos pais. Mas as razões são muito mais complexas do que simplesmente um vício em novas tecnologias.
Hoje em dia, o tempo das crianças não só se torna mais pressionado, como também se espera que elas o usem de maneira construtiva: todo passatempo deve ter um propósito. Mas se tudo na vida de uma criança é organizado, interativo e baseado em “experiências” supervisionadas, então não sobra muito espaço para atividades espontâneas e não mediadas.
É claro que existem boas razões pelas quais as crianças pré-adolescentes de hoje não possam mais vagar por aí sem supervisão. A maior parte da lista de medos dos pais é a preocupação de que seu filho possa ser sequestrado e abusado, seguido de perto pelos perigos do trânsito.
Entretanto, a conexão entre a saúde mental e o amor pela vida selvagem pode não parecer óbvia. Mas de acordo com um relatório de 2003 da English Nature, intitulado Nature and Psychological Well-Being, conectar-se com a natureza não só traz benefícios físicos, mas pode melhorar muita nossa saúde individual, social, comunitária, emocional, mental, espiritual e física.
Afinal, crianças que brincam fora têm menos probabilidade de adoecer, ficar estressadas ou ficar agressivas, e são mais adaptáveis às mudanças imprevisíveis da vida.
Reveja o cotidiano de seu filho (a) e faça você mesma o disgnósico: ele tem o Transtorno do Déficit da Natureza?
Este fenómeno e tema são entre as quais sou mais apaixonado. Como um ser que foi criado com um pouco mais amplo contato com a natureza, sinto um grande tristeza ao contemplar jovens e adultos que mostram as caraterísticas de “pessoas pos-modernas.” A pessoa que jamais consegue se imaginar se sujando, acampando, na fazenda ou escutando aves e determinando quais especies são; a inabilidade de “sobreviver” mais que uma hora sem o fonte do nosso vicio tecnológico portável dos dias atuais, que se chama celular de toque-tela; um povo que nem entende um pouco de como foi produzido a refeição que simplesmente aparece no supermercado (ou até apareceu no prato!). É este desconexão entre pessoas e a natureza que creio deve ser abordado não apenas de pesquisa académica, de transformação escolar e didática, e sim com uma mudança da consciencia coletiva!
Goiania por exemple tem abundancia de áreas verdes, mas a grande massa das pessoas me apareçam totalmente inconsciente desse fato. Necessitamos quebrar a zona do conforto e a rotina para que essa nova consciencia aparece! Não primeiramente em lugares distantes, em reportagens no tv ou em parques nacionais famosíssimos, e sim na entrada da nossa quintal, em nosso bairro, e em nossa cidade!