Rivalidade fraterna pode levar a morte?

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A descrição da rivalidade fraterna remonta à antiguidade. Na Bíblia, ela foi representada em “Caim e Abel”, “Esaú e Jacó” e “José e seus irmãos”. Nestas passagens bíblicas, respectivamente, o desejo de se destacar perante Deus, a disputa pelo lugar de filho primogênito e detentor de todos os direitos, e o favoritismo de seus progenitores, levou à atitude extrema do assassinato do irmão.

A rivalidade, portanto, envolve uma relação triádica, pois envolve o desejo de mostrar-se superior em status, poder, habilidades ou aparência para alguém de fora da relação fraterna. O ciúme é a rivalidade entre os irmãos em face dos progenitores.

É considerada uma experiência usual e justificada por que a relação progenitores/ criança é ameaçada pelo irmão rival. Essa experiência, entretanto, também traz consigo a possibilidade de os irmãos aprenderem a dividir, compartilhar os espaços físicos da casa, as posses e brinquedos de cada um e, mais do que isto, o de dividir a atenção, a admiração e o afeto dos progenitores.

A rivalidade, entretanto, pode tomar várias formas: a disputa por uma possessão valiosa, a competição divertida entre irmãos no campo de futebol, o empenho em superar o irmão no sucesso acadêmico, os intensos sentimentos de aversão e inveja sobre as conquistas pessoais do irmão em comparação a si, e o ciúme quando os progenitores estão interagindo com o irmão.

Difere da competição que já se caracteriza por ser uma relação diádica, ou seja, se refere a busca por superar o irmão, circunscrita ao relacionamento a dois, enquanto que a rivalidade equivaleria à busca por superar o irmão em face de um terceiro.

Pode-se considerar que a competição seria o aspecto comportamental mais observável do conceito rivalidade. Por exemplo, quando dois irmãos tentam vencer um ao outro em um jogo de videogame, pode ser com o objetivo de comparar competências mútuas, ou ganhar poder sobre o outro por demonstração de superioridade. Mas este comportamento competitivo pode também ser um “show para uma plateia”, um modo de ganhar admiração ou simpatia de uma terceira pessoa, o que nesse caso, já se configura uma demonstração de rivalidade.

Percebe-se que a linha divisória entre estes dois conceitos é muito tênue, de modo que toda rivalidade se refere a uma competição, mas nem toda competição pode ser considerada como sinal de rivalidade.

Entretanto, toda relação dos irmãos é vista como parte integral, do mundo social da maioria das crianças, fornecendo oportunidades para companheirismo, jogo, apoio emocional, assim como conflito e rivalidade.  

No esforço para se fazer prevalecer no contexto das trocas entre irmãos, crianças pequenas precisam usar de habilidades mais avançadas do que aquelas empregadas em outras interações sociais, tais como com seus progenitores. Através do envolvimento em um relacionamento construtivo, as crianças podem aprender sobre negociação, compromisso e resolução de problemas.

Entretanto, a violência que pode levar ao homicídio queé o resultado da complexa interação de fatores de risco, familiares, situacionais, sociais e individuais, psicológicos, entre outros. Familiares como quando os pais abusam fisicamente e psicologicamente dos filhos; situacionais, tais como baixo rendimento escolar ou facial acesso às armas e às drogas psicoativas; sociais e individuais, como comportamentos e características de personalidade, que podem encorajar o indivíduo o comportamento violento.

Entre eles, crianças e adolescentes que apresentam problemas cognitivos, tais como rebaixamento de juízo crítico e de coerência, dificuldades na socialização; crianças que costumam ser cínicas, manipuladoras, vingativas, antagonistas, autocentradas, indiferentes para com as necessidades alheias, hostis e com tendência a comportamentos antissociais, com ausência de ansiedade, de culpa e remorso podem apresentar condutas impulsivas e tirar a vida de alguém.

Outros traços têm sido observados em condutas antissociais de jovens que cometeram crimes violentos: tendência a procurar novas e variadas experiências e sensações, disposição para correr riscos, pouca disponibilidade para a cooperação e solicitude com o outro. Nota-se também a ausência de um senso estável de quem a pessoa realmente é, na medida em que tem dificuldade de se identificar com pessoas reais e que fazem parte do seu cotidiano.

Traços narcisistas, típico de pessoas egoístas que tendem a culpar os outros por seus erros e fracassos com baixa autoestima, ausência de culpa e remorso por atitudes e decisões, pouca capacidade de lidar com situações emocionalmente complexas, menor disposição para participar de situações que envolvem expressões de afetos, também são aspectos que sefazem presentes em crianças e adolescentes consideradas antissociais.  

A desconsideração pelos comportamentos socialmente esperados, a tendência a interpretar o que as pessoas fazem e falam de modo equivocado, bem como a falta de motivação para captar e organizar as informações de modo criativo, superficialidade, um exame rápido e pouco cuidadoso das circunstâncias, podem levar o indivíduo a cometer mais erros e a tomar decisões precipitadas.

Quando se trata de jovens homicidas que atuam de forma repentina e sem pensar nas consequências de seus atos, têm sido a pouca capacidade de lidar com situações emocionalmente complexas, precipitando- -se na tomada de decisões e estressando-se facilmente quando está diante dessas circunstâncias que não foram planejadas.

Rivalidade fraterna, portanto, pode sim levar ao fratricídio, pode levar a morte pois o complexo fraternal envolve afetos, desejos, ciúmes e invejas, e remetem a uma conduta instintiva de posse, contextualizada nas mais diversas situações de disputa em relação a quaisquer bens.

Nesse sentido, a percepção de uma dessas atitudes nos filhos, devem levar os pais a procura de uma ajuda psicológica e psiquiátrica, como forma de prevenção para infortúnios maiores.  

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