Final de ano chega e com ele muitas preocupações familiares. Entre elas, a relacionada com as notas escolares das crianças.
O que dificilmente, entretanto, é motivo de preocupação é relacionado aoo desempenho dos pais diante de seus próprios papeis.
Até que ponto, a origem e a estrutura dos conflitos familiares não estão impedindo um bom desempenho da criança? As diferenças de percepções, crenças e necessidades muitas vezes, formam as bases do desajuste familiar, e interferem na maneira como o aluno estabelece suas relações consigo mesmo, com os pais, com os irmãos, outros membros da família e na escola.
Alguns desajustes citados abaixo podem estar presentes no cotidiano das famílias, sem que seus elementos percebam e interferirem no desempenho acadêmico da criança. Entre eles:
– Exigência excessiva dos pais quanto ao sucesso acadêmico do filho – quando o leva a se sentir inseguro com relação à sua capacidade e maneira de ser; ele tenta engendrar uma imagem diferente daquilo que realmente é, passando a considerar que os colegas são melhores do que ele, canalizando suas energias para a sua preocupação em superá-los e fazendo tudo perfeito, parecendo estar constantemente competindo e se defendendo.
– Exagerado sentimento de responsabilidade familiar do filho – quando se sente culpado pelo investimento dos pais para garantir a sua permanência na escola considerando sua obrigação um desempenho além do satisfatório.
– Favoritismo dos pais em relação a um dos filhos que gera a rivalidade fraterna e impede que a criança se sinta estimulada a investir em suas próprias capacidades. Ao contrário podem desenvolver sentimentos de egoísmo nos preteridos e fantasias de que não são os escolhidos para concretizar os sonhos familiares.
– Rejeição clara ou velada dos pais que gera uma relação familiar ambivalente e contraditória impedindo o desenvolvimento da autoestima e da autoconfiança no filho rejeitado. No predileto, se não conseguir corresponder à expectativa idealizada dos pais, pode também gerar provocar sentimentos de decepção, hostilidade e rejeição.
– Ciúmes dos pais de que a criança venha a ter uma independência cognitiva e emocional, o que os faz adotar condutas agressivas ou ambivalentes em suas interações, num misto de aproximação e afastamento, com um discurso incoerente.
– Ressentimento dos pais quanto às realizações dos filhos, por não terem vivido as mesmas oportunidades, o que provoca inibição e afastamento dos filhos dos estudos, alimentando seus vínculos de dependência.
– Superproteção dos pais que impede do filho de lutar por sua emancipação, independência e autonomia, diante de situações novas e seus próprios problemas e dificuldades.
– Solidão no período de adaptação a vida acadêmica – quando a criança não se sente preparado para enfrentar os desafios acadêmicos e emocionais vividos na escola, o que gera sofrimento, tristeza e insegurança, podendo levar à depressão.
Sem dúvida esses são alguns dos fatores estressores capazes de criar entraves, por vezes intransponíveis, ao aproveitamento escolar e se convertem em potentes instrumentos do fracasso.
É preciso ter consciência de que o baixo desempenho acadêmico, também pode ser decorrente do fato das crianças se sentirem responsáveis pelos conflitos familiares, de seus problemas orgânicos como dificuldades de dormir tranquilamente, sono agitado e interrompido durante a noite, problemas com a alimentação, de hábitos de estudo inadequados, da falta de motivação para o estudo, dificuldades de relacionamento com professores e/ou colegas, falta de atenção às explicações dos professores, entre outros, que podem ser entendidos como maneiras destrutivas de lidar com a angústia concomitante ao estresse. Tais situações indicam a necessidade de acompanhamento e assistência.
Destituídos de autoestima, e com excesso de sentimento de culpa, ansiedade e rigidez consigo mesmo e com os outros, a criança com baixo desempenho acadêmico, apresenta uma preocupação exagerada com a opinião dos outros e uma cobrança de si mesmo próxima da perfeição, para não dar margem a críticas, procurando ser “bonzinho” e “certinho” para agradar aos pais. Com medo de enfrentar os pais e falar de seus próprios desejos e anseios, a criança não consegue expressar suas emoções, nem enfrentar as famílias sem se culpar. Por outro lado, pode também adotar condutas opostas, como a agressividade, a violência e a resistência escolar.
É preciso, portanto, acreditar que para além das notas, a criança tem dentro de si amplos recursos para a autocompreensão, para alterar seu autoconceito, sua atitude básica e seu comportamento autodirigido, que podem ser desenvolvidos se lhe for proporcionado um clima compreensivo, de atitudes psicológicas facilitadoras, com profundo respeito por sua autonomia, dignidade e exibilidade de pensamento e ação, com tolerância quanto às suas incertezas e ambiguidades.
Do ponto de vista psicopedagógico, é preciso atuar no resgate do desejo e da competência de aprender, ressaltando a importância do “aprender a aprender”, redirecionando o aluno para uma aprendizagem mais autônoma e significativa.
Do ponto de vista familiar a profunda reflexão sobre seu próprio desempenho na escola chamada “vida”.