A criança é um ser estético por natureza, mas é através da ampliação da percepção visual que se possibilita a ela encontrar outras experiências de cunho estético. Quando a imagem invade olhar da criança, estabelece-se uma qualidade de experiência que influirá em seu relacionamento com as redes sociais e a televisão. Esses veículos de comunicação, preparam a criança para a interpretação de conteúdos não-verbais, envolvendo-a por colocá-la diante de uma representação mais complexa e mais apurada, enquanto a experiência estética pode impulsioná-la para a interpretação de imagens visuais.
Assim, novas mídias reforçam o narcisismo e os padrões de beleza vigentes e provocam impacto sobre a imagem corporal de crianças, adolescentes e adultos.
Constrói-se a imagem do corpo pelos sentimentos, pensamentos, ações e relações com que o individuo estabelece com seu corpo. Entretanto, a internalização do padrão ideal, gera a insatisfação corporal, gerando uma discrepância com a imagem real.
As crianças são os indivíduos mais vulneráveis a esse tipo de tecnologia, por seus conceitos, sua visão sobre o mundo estar em construção, não sabem discernir o certo do errado, nem tem senso crítico sobre o conteúdo das redes sociais, muitas vezes, impróprios para determinadas faixas etárias.
As informações do mundo atual, principalmente as ditadas pelas mídias, na maioria das vezes, não coincidem com as imagens corporais reais dos indivíduos, carregadas por questões de ordem biológica, afetiva e social gerando grande insatisfação.
Em pesquisas realizadas, observou-se que as crianças têm como meio de comunicação de preferência a televisão e segunda opção a internet. As mães entrevistadas afirmam que seus filhos desejam comprar produtos cosméticos, usar roupas da moda, realizar cortes de cabelo e comportar-se da tal maneira qual vêem nos artistas ou desenhos da televisão. Percebem que o despertar do interesse das crianças para os cuidados da imagem, se deve a influência dos veículos de comunicações, onde diariamente expõem atrizes, cantores entre outros, como parâmetro estético. Preferências pelos personagens de desenhos animados também ampliaram o ouso de produtos de beleza e higiene pessoal que são constantemente associados a esses personagens.
A influência da mídia por meio de seu poder eloquente nos discursos e imagens do meio midiático pode muitas vezes, levam crianças e jovens a rejeitarem seus corpos, tentando de todas as maneiras conseguir alcançar o padrão estético ditado pelo modismo.
A vaidade excessiva, inclusive pelos programas de computador que alteram a própria imagem, pode acarretar problemas no desenvolvimento da criança que está passando pelo momento de construção de sua personalidade.
O tempo compartilhado entre pais e filhos é cada vez mais escasso: trabalha-se cada dia mais para o aumento do poder aquisitivo (e conseqüentemente do consumo), e a mulher tem uma contribuição crescente na fatia produtiva da população, ficando bastante tempo fora de casa. Pais chegam tarde em casa, crianças atarefadas, refeições solitárias ou feitas fora do lar. A família se reúne cada vez menos para conversar sobre o cotidiano e vive formas múltiplas de conjugalidade.
Dessa forma, crianças de uma maneira geral, estão sendo produtos daquilo que eles estão recebendo, das mídias sociais.
A mídia possui ingredientes que fazem parte do processo de hipnose e sedação produzidas pelas imagens. É preciso abrir os olhos para compreender as redes sociais trabalham para fazer o inconsciente tanto da criança como o do adulto trabalhar em favor do lucro.
Afinal, o inconsciente não é ético e nem antiético. Ele funciona de acordo com a lógica da realização imediata dos desejos que na verdade não é tão individual como pensamos. Diz que o desejo é social, que desejamos o que os outros desejam, ou que nos convidam a desejar. Que uma imagem publicitária considerada ideal é a que apela aos desejos inconscientes, ao mesmo tempo em que se oferece como objeto de satisfação. Esta imagem determina quais são os objetos imaginários de satisfação do desejo, e assim faz o inconsciente trabalhar para o capital. Mas o inconsciente nunca encontra toda a satisfação prometida no produto que lhe é oferecido e nesta operação quem goza é o capitalista.
Esses aspectos ajudam compreender como os adolescentes se constituem no público alvo da mídia, no que diz respeito ao consumo de novos produtos e na adesão ao novo padrão estético corporal. Não há dúvida de que, o adolescente necessita ser desejado, querido e aceito, e manter um corpo bonito, esbelto e esguio, representa a expressão maior do erotismo/desejo, já que vive em busca da aceitação social.
Propagandas que divulgam estereótipos de modelos famosos podem levar o adolescente a querer ter um corpo como o destes modelos desenvolvendo nele o desejo de ser e de consumir tal estilo incitando-os muitas vezes a práticas não saudáveis.
Em virtude disto, “desconhecer ou desconsiderar a presença e a influência hegemônica da mídia na formação da opinião, dos desejos, das atitudes, dos valores, dos comportamentos e da subjetividade torna-se quase impossível.
Enfim, é importante perguntar para os pais: que corpo está usando ultimamente? que corpo está usando para representa-lo no mercado de trocas imaginárias? Enfim, que imagem tem oferecido ao olhar alheio para garantir seu lugar no palco das visibilidades em que se transformou o espaço público onde vive?
É preciso verificar que corpo e a mente desligaram-se, desvincularam-se, de tal forma que não é mais razão que determina o projeto corporal, mas sim a mídia. Que o corpo passa a ser um simulacro de si mesmo, inventado pela mídia e tecnologia.