É o filho que dorme com os pais ou são os pais que dormem com os filhos?

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O que estará por trás desta escolha ou necessidade?

A partir da colocação de Mia Couto, “Dormir com alguém é a intimidade maior. Não é fazer amor. Dormir, isso que é íntimo. Um homem dorme nos braços de mulher e sua alma se transfere de vez. Nunca mais ele encontra suas interioridades” pode-se refletir a respeito da questão de os filhos dormirem com os pais.

Uma criança precisa desenvolver um sentido de individualidade e não perder sua interioridade. Precisa criar a percepção de que não é extensão do mundo, ou o mundo uma extensão de si mesma. A mãe, não pode ser vista como sendo uma extensão de si própria e assim atrasando o processo de individuação da criança.

A não existência de barreira entre a criança e o meio, é vivenciado pela mesma, quando ela se torna incapaz de diferenciar entre si e o resto do mundo, por ter perdido o sentido de si própria. Perguntam o tempo todo se: isto está bom? isto está correto?. Optando pela não diferenciação, a criança tenta ser aceita e agradável mantendo-a insegura.

É preciso refletir se uma criança que partilha o leito com seus pais não os veêm como autoridade, mas simplesmente como uma continuidade da sua própria autoridade. Como esperar de um filho um comportamento de adulto se os pais possuem atitudes infantis?

Desde que se rompe o cordão umbilical o senso de união e separação começa a ser desenvolvido. Se esse aspecto não for observado ocorrerá um prejuízo imenso a respeito de a criança vir a se assumir como um ser que se difere do outro, com sensações e sentimentos que lhes são próprios.

Acabam por desenvolver dificuldades de discriminar o que lhe pertence e crescem de forma simbiótica, com sua “casinha emocional” tão repleta de “coisas” emprestadas não sobrando espaço para as suas próprias “coisas”.

Geralmente se tornam crianças, que engolem sem mastigar todas as informações a respeito de si mesma, de tal forma que, mal digeridos, estes elementos exteriores ficam interiorizados como corpos estranhos, o que dificulta o processo de discriminação entre o que é verdadeiro ou não a seu respeito. Sua fronteira de contato permanece vulnerável e suscetível a falsas crenças a respeito de si mesma e do mundo. Com seu senso de self enfraquecido, inicia o ciclo de comportamentos inadequados, como uma estratégia de sobrevivência diante das introjeções negativas que a cercam.

Em outras situações a criança faz o mundo mais responsável pelo que se origina em si mesma, quanto aos aspectos da personalidade que não consideram satisfatórios.

            Sendo seres coexistentes, nos estruturamos em relação ao outro, na semelhança, mas também, na complementaridade, na diferença e, ainda, na oposição. Muitas vezes a criança se depara com a confirmação condicional: “só lhe confirmo se você confluir conosco: se for à igreja, se for educada” e tantos outros.

Desse modo, cada vez que nos é negado ser uno e múltiplo, estamos diante da desconfirmação de nossa singularidade.

Uma atitude muito comum é a dos pais irem para a cama com o filho por volta das 21:30 a 22:00 hs porque a criança precisa dormir, e acabam por ficar na cama dos filhos, que deveriam adormecer sozinhos no seu próprio quarto e na sua própria cama desde o seu nascimento.

A velha desculpa adormeci de cansaço, leva muitos casais a optar por dormir em camas separadas e na maioria das vezes em quartos separados, quando muitas vezes ambos têm a noção que o problema não é a criança, mas sim uma relação desgastada entre o casal. Outra situação encontrada é a de que os filhos dormem na cama dos pais.

Gradativamente a criança vai percebendo que tem um poder enorme de manipular os pais e confirma que eles são mera continuidade de si próprio. Assumem o poder de fazer a mãe e o pai ficarem cansados, desgastados, por vezes zangados um com o outro, não terem a sua intimidade como casal, não terem o seu espaço para si próprios.

Pesquisas evidenciam que, a maioria das crianças com problemas comportamentais, dificuldades escolares, insegurança, medos, agressividade, falta de respeito para com as figuras de autoridade, comportamento oposicional desafiante, etc., geralmente dormiram por muito tempo na cama dos pais.

Mas, é o filho que dorme com os pais ou são os pais que dormem com os filhos?

Você já ouviu falar que muitas crianças que haviam já alcançado a sua capacidade de dormirem sozinhos regrediram por conta da necessidade de seus pais?

Verdadeiro e doloroso esse é o testemunho de muitas mães e de pais, que confessam o custo de dormir sozinhos.

Egoisticamente, perdem a noção de limites entre a figura mãe/pai/filho, preferindo a fusão de papeis. Optam por atrasar as etapas de desenvolvimento de seus filhos que envolvem autonomia, por exemplo, a de tomar banho sozinho, vestir-se, alimentar-se, entre outras. Preferem fazer pela criança tudo que ela já é capaz, como arrumar o seu quarto, colocar a sua roupa suja no lugar certo, limpar-se depois de fazer as suas necessidades, etc.

Assim, manter a criança dormindo no quarto dos pais é impedir que ela encontrar sua própria interioridade, sua diferenciação.

A exceção a regra pode envolver situações de crise, como luto, violência doméstica, divórcios que podem gerar uma segurança emocional, mesmo que passageira.

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