O estresse é um fenômeno que pode se manifestar em qualquer fase do ciclo da vida, e está cada vez mais presente na infância. Longe a época em que a infância era um período feliz, livre de preocupações ou de responsabilidades.
Você sabia que a capacidade de suportar pressões é uma característica individual? Muitas vezes não é o evento em si que torna criança vulnerável, mas sim a forma como ela percebe os estímulos estressores. Duas crianças do mesmo sexo e idade, quando expostas a uma mesma situação estressante, podem reagir de diversas formas, condicionadas por fatores genéticos, intrapsíquicos, educacionais, culturais, além de recursos de enfrentamento e suporte social, assim como a intensidade, frequência e qualidade dos estímulos recebidos.
Os estressores que podem afetar a criança devem ser proporcionais à habilidade de lidar com eles, à maturidade, ao estágio do desenvolvimento e à resiliência infantil. É significativo compreender que uma criança não se desenvolve saudavelmente apenas sendo poupada do contato com o risco, excessivamente protegida de fatores de risco não tem chances de se preparar para o mundo atual, do mesmo modo como uma criança exposta a eles em demasia não tem a oportunidade de fortalecer-se e aprenderem estratégias de enfrentamento.
Quando a criança consegue lidar bem com o meio ambiente, quando este não lhe impõe a necessidade de exibir uma resistência acima de sua capacidade – ainda limitada –, quando a ansiedade gerada pela vida não está além de sua capacidade de lidar com ela e a criança consegue se adaptar às tensões, ela tende a lidar de maneira mais satisfatória com o estresse na vida adulta.
Durante seu desenvolvimento intelectual, emocional e afetivo, a criança confronta-se com momentos em que a tensão de sua vida pode alcançar níveis muito altos, ultrapassando, por vezes, sua capacidade ainda imatura para lidar com situações conflitantes.
Por isso é importante ter consciência dos eventos estressantes para as crianças, entre eles, a hospitalização dos pais, da criança ou a perda de um membro da familia, assim como a separação dos pais, exigências disciplinares, sequestro de um membro da família, mudança de residência e de escola, ausência dos pais, presenciar brigas entre os pais, nascimento de um novo irmão e mudança de emprego dos pais.
Afinal, todas essas situações exigem a adaptação do organismo e muitas crianças reagem ao estresse com sintomas imediatos, sejam eles físicos (dor de barriga, diarreia, tique nervoso, dor de cabeça, náuseas, hiperatividade, enurese noturna, gagueira, tensão muscular, ranger de dentes, falta de apetite, mãos frias e suadas) e/ou psicológicos (terror noturno, introversão súbita, medo ou choro excessivo, agressividade, impaciência, pesadelos, ansiedade, dificuldades interpessoais, desobediência, insegurança, hipersensibilidade), devido à quebra do equilíbrio interno do organismo no esforço em lidar com uma nova situação e adaptar-se a ela.
É preciso portanto, ajudar a criança a desenvolver habilidades adequadas e eficientes de enfrentamento das situações estressantes inevitáveis em sua vida, permitindo enfrentá-las de forma satisfatória, pois, à medida que é capaz de perceber seus estressores e de desenvolver habilidades adequadas e eficientes para enfrentar as situações estressantes e/ou dificuldades, poderá manejar seu estresse de forma satisfatória, prevenindo-o nas outras fases da vida, como na adolescência e na idade adulta.
Outro lugar passível de levar a criança ao stress é a escola, por ser um ambiente repleto de novas experiências, desafios e aprendizagens principalmente quando associado ao ingresso cada vez mais precoce da criança na vida escolar. Tal fato ocorre, pois é neste contexto que as crianças começam a receber cobranças formais, passando a ter horários, regras e responsabilidades em número bem maior do que tinha em casa.
Portanto, é importante não medir esforços para melhor compreender as relações família-escola de modo a assegurar que ambos os contextos sejam espaços efetivos para o desenvolvimento humano, além de contribuir para a minimização de possíveis consequências do estresse infantil para a vida adulta.