A história de Pinóquio, em que o personagem principal é símbolo da mentira, criou uma sinapse entre a realidade e a fantasia e atravessou gerações, conquistando desde crianças até adultos.
Deparamo-nos com a mentira a todo o momento, pois o mundo já se acostumou com a ficção e encontra dificuldades em distingui-la e ainda a aceitar como inocente, principalmente se vier de crianças.
É preciso verificar, portanto, se seu filho está desenvolvendo o hábito de mentir, desde a infância. Mentir, para algumas crianças, passa a ser considerada uma forma normal de responder a qualquer pergunta, por mais simples que seja. Algumas vezes, são pequenas mentiras, outras são muito elaboradas, cheias de detalhes, que induzem a própria pessoa a acreditar nelas. Mentirosos compulsivos podem esconder a verdade sobre tudo, quer seja algo grande ou pequeno e dizer a verdade pode chegar a ser muito estranho e desconfortável.
Até três anos de idade a crianças fantasiam e acreditam que o mundo seja do modo como declaram, sem discriminar a mentira do fato verídico. Normalmente confundem a realidade com a fantasia e inventam muitas histórias sem fundamento, que são na maioria das vezes, inocentes. Nessa fase, criança não avalia a mentira pela intenção do mentiroso, mas pela possibilidade de existir realmente, aquilo que está sendo dito.
A partir dessa idade até aos seis anos, a criança pode começar a mentir, mas ainda sem intenção maldosa, o que começa a acontecer a partir dos sete anos, uma vez que, já é capaz de diferenciar o verdadeiro do falso. As vezes começa a mentir para se isentar de culpas.
Entre os dez e treze anos o indivíduo, começa a ter suas próprias opiniões e, pode desenvolver mentiras compulsivas, desencadeadas por algum trauma, em idades anteriores. Portanto, de uma mania inocente a mentira, pode tornar-se um transtorno de personalidade difícil de controlar na fase adulta, pois nesta fase a mentira nunca é inocente.
As crianças aprendem a mentir e o fazem com a intenção de se livrar de repreensões, tarefas indesejadas e até mesmo enganar pais e colegas. O perigo está quando a mentira começa a ser frequente e a criança passa a incriminar outras pessoas.
Desde a infância, portanto, já é possível identificar se a pessoa tem algum desequilíbrio psíquico, pois depois desta fase tudo que ocorre é espelho do que se desenvolveu.
A mentira pode ser classificada de várias formas:
– a mentira branca que é considerada como uma forma de se adaptar a sociedade,
– as mentiras esfarrapadas “úteis” são aquelas em que você diz que vai a um local, mas vai a outro.
– as mentiras mais comuns são as compensatórias, em que a pessoa finge ter um status que não lhe corresponde, como usar uma roupa de grife, entretanto é emprestada,
– a mentira usada como estratégia para preservar a privacidade, evitar constrangimentos, fugir de um castigo ou até escapar de situações embaraçosas,
– a dissimulação é a mentira propriamente dita, ou seja, o ato de ocultar alguma informação que possa prejudicar outro indivíduo. O dissimulado mente com o intuito de esconder seus atos e principalmente prejudicar ou obter vantagens sobre os outros. O dissimulado encontra com facilidade defeitos nos próximos, mas tentam esconder todas suas falhas, aparentando ser uma pessoa humilde, empática e altruísta.
A causa da dissimulação está enraizada em traumas de infância, provocada muitas vezes por má educação. A mentira se torna, portanto, um mecanismo de defesa para quem tem algum sentimento indesejado ou deformação do caráter.
É útil ter a consciência de que, pessoas com personalidades persecutórias que são os psicóticos e neuróticos, não aguentam críticas, e usam a mentira para proteger seu frágil ego para lidar com a realidade indesejada.
A diferença da mentira contada por psicóticos e neuróticos é que, nos psicóticos há maior negação da mentira, nos neuróticos isso ocorre com menos frequência, e ainda querem acreditar em ausência de realidade, mesmo sabendo que ela existe. Eles fogem de conflitos com a realidade, distorcendo-a a seu favor. Já os neuróticos vivem num faz-de-conta, ele sabe que está contando mentiras mesmo assim nega tudo.
Entretanto, tanto psicóticos quanto neuróticos não têm o controle de suas emoções, sentem-se ameaçados e por isso mentem, pois é uma maneira que encontram para não sofrer e fugir da realidade, tornando as pessoas suas vítimas totalmente dependentes deles.
O sociopata quer sempre obter vantagens com sua mentira sem nenhuma consideração com o outro. Os mentirosos compulsivos, por outro lado, não são necessariamente manipuladores, eles sofrem com seu hábito de mentir, pois percebe que as relações sociais estão sob risco de serem quebradas.
Os mitômanos sempre sabem, no fundo, o que eles dizem não é totalmente verdadeiro, embora não possuam consciência plena da intenção de cada mentira. Por isso, acabam por iludir os outros em histórias de fins mirabolantes, com o intuito de suprirem aquilo que falta em suas vidas. A tendência à mentira parece ser perseverante, e não é provocada pela situação imediata ou pressão social, apenas, mas pode representar uma característica da personalidade, uma vez que, as histórias contadas tendem a apresentar o mentiroso sempre favoravelmente.
É uma tarefa muito difícil a de identificar um mentiroso, a não ser quando são pegos em contradição ou flagrados. Até mesmo quem sofre com mentiras compulsivas (mitomania) mentem sem perceberem suas contradições.
A ansiedade pode demonstrar quando o mentiroso está atuando, por tentar convencer desesperadamente os outros da sua fantasia. Assim vale a pena prestar atenção às mudanças físicas no corpo do mentiroso.
Seu físico se modifica, ele sofre um aumento nos batimentos cardíacos, apresentam tremores, gagueiras, suores e tem dificuldade em olhar as pessoas nos olhos, pois ele tenta esconder o que realmente está sentindo, aliás, tem-se maior dificuldade de mentir com a face do que com as palavras.
Os pais devem ajudar os filhos a admitir seus erros passando a eles a verdade, e claro, não devem esconder as mentiras. Ao mesmo tempo, devem rever suas mentiras ou declarações falsas, uma vez que, muitas crianças aprendem a mentir com os próprios pais, pois na infância elas absorvem todo tipo de informação que lhes é repassada.
A procura por psicólogos e psiquiatras podem ser de grande valia, principalmente se a mitomania está sendo instalada.