A “terapia de varejo”. Você tem comprado a felicidade de seu filho(a)?

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Você já se endividou por causa de compras feitas para os filhos e ou deixou de adquirir coisas importantes para casa ou pagar alguma conta em razão de pedidos dos filhos?

Pais que precisam lidar cotidianamente com os constantes pedidos de seus filhos por novos produtos sabem o quanto é difícil se confrontar com as solicitações insistentes dos filhos para comprar o que desejam e não necessariamente o que precisam. O impacto da “amolação das crianças” é estimado como responsável por 46% das vendas em negócios-chave direcionados às crianças.

Estabelecer limites para as crianças não é uma atitude tão simplista, pois, tão logo elas aprendam a ler, ou talvez bem antes, a ‘dependência das compras’ se estabelece no seu cotidiano. A iniciação precoce (embora, para a sociedade de consumo, essa precocidade não exista) nada mais é do que a confirmação do caráter vocacional da adesão à sociedade de consumo. Afinal, numa sociedade de consumidores, todo mundo precisa ser, deve ser e tem que ser um consumidor por vocação (ou seja, ver e tratar o consumo como vocação).

A incitação ao consumo como via para a felicidade talvez tenha sido a responsável pela ideia por trás da expressão “terapia de varejo”. Esta expressão parece ser reveladora do caráter “curativo” do consumo, em um sentido de saúde mental mesmo. O consumo é apropriado pelo indivíduo como um caminho para o bem-estar e para a felicidade. No entanto, à mesma maneira de outras drogas utilizadas com o fim de se obter maior bem-estar, a transformação do consumo em mecanismo eventual de solução de conflitos existenciais pode levar a efeitos perniciosos, como o desenvolvimento de padrões de dependência.

No entanto, diferentemente do que ocorre com substâncias farmacológicas, o remédio-consumo parece continuar sendo prescrito pela mídia de forma cotidiana e sem restrições médicas.

Portanto, entre os desafios da infância na contemporaneidade, podemos citar o fato de as crianças terem que lidar, diariamente, com o impacto de sua inserção em uma sociedade de consumo.

Designar uma sociedade como “de consumo” significa, segundo compreender que nela o consumo ocupa um lugar extremamente destacado, capaz de interferir em coisas como o comportamento humano, as relações sociais e a própria visão que o indivíduo tem de si mesmo e do mundo à sua volta.

Assim, a família dentro desse contexto, vivencia o consumo como uma obrigação cujo descumprimento gera punições, como o isolamento. Outra característica deste contexto é que seus membros são também, individualmente, mercadorias de consumo que precisam ser promovidas e vendidas. Aqueles que a ela não se adaptam tornam-se, por isso, excluídos desta sociedade.

O consumismo infantil e do adulto, se caracteriza pela capacidade profundamente individual de querer, desejar e almejar alienando os indivíduos no sentido de ser incorporado/capturado por uma “força externa” que passa a determinar inclusive a maneira com que definem sua conduta e escolhas de vida, em busca da sonhada felicidade.

Pais e filhos consumistas apresentam uma prevalência do desejo sobre a necessidade – o que significa que os aspectos emocionais relacionados a ele seriam preponderantes em relação aos aspectos racionais, o que leva a substituição de valores.  

Assim vive-se o âmbito da relativização generalizada de todas as verdades. Entre elas, a de que a busca pela felicidade se daria pelo consumo e de que seria perpetuada através do consumo contínuo de novos produtos.

Dessa forma a felicidade teria se tornado uma meta estabelecida socialmente para ser alcançada individualmente. A infelicidade, por sua vez, configuraria como um fracasso do indivíduo-consumidor em alcançar a meta estabelecida.

Algumas estratégias de marketing são implementadas nos primeiros meses de vida de um bebê. Outras, durante a gravidez da mãe. Algumas crianças assistem em torno de 40.000 comerciais na TV durante um ano e chegam a conhecer mais nomes de personagens de marcas do que de animais verdadeiros.

Assim é preciso tentar impedir que o desejo de consumo se instaure na criança e que venha a viver alguma sensação mal-estar decorrente de não poder saciar este desejo. Até porque, para que ocorra tal mal-estar, não é necessário não desejar muito, mas simplesmente não ter a única coisa que se deseja.

É preciso também pontuar que a sociedade de consumo, promete “felicidade na vida terrena, aqui e agora e a cada “agora” sucessivo. Em suma, uma felicidade instantânea que não se perpetua e traz a infelicidade quando o consumo não acontece.

Enfim, a infelicidade na sociedade consumista não é só́ a infelicidade: é, ainda pior, o fracasso da felicidade do consumo.

Cuidado por que muitos pais estão tentando comprar a felicidade dos filhos

no âmbito do consumismo, no qual, aspectos “supérfluos” ganham importância sobre aspectos da subsistência.

            O que começa como um esforço pequeno para satisfazer necessidades das crianças, pode se transformar em compulsão ou vício.

Assim, evite buscar soluções de problemas e alívio para dores e ansiedades nas lojas, e apenas nelas, num mundo de incessantes novos produtos. Não acredite na “terapia do varejo”.

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